Sim, esse blog estava morto. Sim ele voltou a vida. Uma história curiosa me veio em sonho e achei que valia esboçar ela publicamente.
El Conquistador
Marco Antônio não era uma pessoa especial. Sim, toda história parte com essa premissa só para que ela se desprove nas linhas abaixo, afinal, se completamente comum e sem graça fosse, não renderia uma história.
Na verdade, estamos sendo injustos com o Marcão, ele era um cara bacana, cheio de estilo, gostava de não se conformar com os ditames da moda e da padronização humana que aflige uma sociedade que precisa de olhar para o lado para saber se vestir.
Descolado que era, vivia num intermediário entre a chata barba hipster e a caretice da cara limpa. Com uma festa temática dos anos 60 em vista, decidiu envergar grossas costeletas e ir de Elvis. Importante salientar que estamos falando do Elvis magro, não do Elvis decadente vestindo macacões com lantejoulas em Las Vegas, só o tamanho das costeletas homenageariam a fase cafona do Rei.
Sapatos brilhando, gel no cabelo, Marco estava um verdadeiro homem dos anos 60 andando pelas ruas de um frio entarcedecer carioca. Quando estava a caminho da festa, ouviu uma sinfonia de atabaques saindo de uma rua muito estreita. Ao passar ao lado da viela, tudo ficou preto.
Ele não estava mais andando pela Tijuca, ele não estava mais em lugar nenhum. Estava parado em pé e, ao seu redor, só havia breu. Uma luz se acende ao longe, abaixo da luz uma pessoa está sentada numa poltrona, saboreando um sorvete. Marco se aproxima em busca de respostas
Ao chegar perto nota que está diante de uma jovem moça negra, bastante gorda, que parece bem focada em seu sorvete. Mesmo assim, decide interpelá-la
- Moça, onde estou, o que aconteceu comigo?
A moça olha de canto de olho, mas continua focada na casquinha
- Você me deu boa noite cinderela quando comprei aquela cerveja no caminho da festa não deu? O que você quer de mim, meus rins?
Olho, casquinha.
- Responde alguma coisa caralho, quem é você?
Irritada com o chilique de Marco, a moça resolve responder
- Porra cara, não tá vendo que eu tava terminando uma casquinha? Se der mole essa merda escorre e eu fico toda melada depois e esse papelzinho que vem junto não limpa nada, é horrível. Dito isso, você melhorou bastante nesses últimos anos ein Marco, há umas vidas atrás teria me chamado de macaca suja infiel pra baixo.
- Ahn? Vidas? do que você tá falando?
- Ah, ah, eu esqueço que vocês mortais levam um reset antes de voltar. Vou explicar em linhas gerais. Tu nasce, cresce, faz merda pra caralho, morre, fica no pendura, nasce, faz mais merda ainda, morre... esse esquema de reencarnação é tipo um cheque especial sabe?
- Você só pode estar maluca, que tipo de brincadeira escrota é essa?
- Hnm, brincadeira nenhuma nem, é a real.
- Mas então por que agora, por que logo no dia em que eu ia jogar meu charme de Elvis pra cima de umas gringas que estão fazendo intercâmbio lá na faculdade?
- Por isso aí mesmo, gatão. As costeletas te deixaram sensível as vibes das suas vidas passadas e aí tu passou na frente de um terreiro e xablau - puxamos você para um papo.
- Então... você é tipo deus?
- Claro que não né porra, o cara é onipresente mas não tem tempo pra ficar lidando contigo né. Seguinte, a real é essa - teu cheque especial tá vermelho pra dedéu, com costeletas iguais a essa aí tu viveu na pele de Lope de Aguirre, Conquistador Espanhol que subiu pra tudo que é lado no Peru matando os pobre dos Inca procurando Eldorado. Além disso tu ainda traiu seu chefe e se fazia conhecer como a fúria de Deus, o que não fez o chefe lá muito feliz, ela odeia essa parada aí de matar em nome de.
- Ah, deus também é uma ela?
- Claro, enquanto vocês homens ficam aí se matando nós fomos subindo na empresa né. ENFIM, andamos precisadas de uns serviços aí na terra e como você é um rapaz que tá indo bem, tá melhorando, tá pagando ali o mínimo da fatura, mas tem uma dívida DAQUELAS , decidimos oferecer uma renegociação, sacou?
- Ahn... saquei, mas e se eu não quiser saber disso e preferir correr atrás daquele menage com as gringas?
- Tá vendo? É por isso que vocês homens continuam aí presos na terra, é por essa vontade de só pensar com a piroca. Você pode fazer o que tu quiser, porque né, livre arbítrio e tal, mas porra, esses abatimentos não aparecem toda hora não, eu tô falando de várias vidas a menos que tu vai ter que voltar no futuro aí. E, acredite, tu não quer morar na versão microondas desse planeta aí não. Todo dia vai ser verão de bangu.
- O que? verão de bangu? TÔ DENTRO.
(continua...)
Capítulo 219 - Meu problema com a poesia
Há 4 anos