sexta-feira, 11 de maio de 2012

Legal.

Estou a poucos meses da minha formatura em direito, ganharei o fantástico título de doutor sem doutorado, arte de uma terra onde o título é status, não formação acadêmica.

Mais do que isso, me colocarei fora da população economicamente ativa, desempregado, quer dizer, desempregado não, formandos em direito deram um nome mais legal pra isso - concurseiro.

Pejorativamente serei chamado do cara que só estuda, como se estudar fosse algo frugal e de menor importância, mas, o que as pessoas que me chamarão assim estão certas em dizer é de que eu de fato não estarei ganhando dinheiro para estudar. E é assim que o sucesso em nossa sociedade é medido, pela quantidade de dinheiro que ganhas, legal?

Mas essa nem é a pior parte, a pior parte é que eu não saio da faculdade super empolgado em tentar ser promotor, motivo pelo qual entrei na faculdade. Preciso de ter 3 anos de prática jurídica para poder ser promotor. Então eu tenho que guardar toda essa animação em agir e fazer a diferença, guardá-la com cuidado e lembrar que ela um dia existiu em algum momento de 2015. Legal.

Agora minha realidade é virar analista ou técnico judiciário, preciso de um fluxo de caixa para financiar minhas ambições, ou seja, tenho que fazer uma coisa que eu não quero, onde não serei nem um pouco feliz, dada minha pouca vontade de realizar a função em questão, para poder esperar o tempo passar até que a coisa que eu realmente quero seja atingível. Legal.

E é bom que eu passe, senão o que me restará é ser escravogado de alguma firma, onde eu trabalharei 12 horas por dia para ganhar... bom é bem pouco para quem estuda 5 anos e trabalha 12 horas por dia, te garanto. Legal.




sábado, 7 de abril de 2012

Vida porteña

Pontinhos sobre meu pulinho na saída do Mar del Plata.

- Os argentinos estão falidos há uns 10 anos, mas ainda assim Buenos Aires tem um metrô maior e melhor do que qualquer um no Brasil, ainda que esteja feio demais. Aliás, nem metrô nem ônibus são caros, 1,25 reais e 0.65 centavos a passagem respectivamente.

- A vida cultural dos caras é impressionante.

- Não me senti inseguro mesmo com muita mendicância e gente estranha. E parece que nem o argentino sofre com a violência, ainda que maior.

- O papo sobre as Malvinas por lá está chegando ao nível da psicose, domina os noticiários e as conversas, é totalmente irritante. Anglofobia on the rise.

- Eles são loucos, os argentinos, seja para atravessar uma rua ou para ir num show de rock. E essa loucura junta de uma chuva que acabou com o equipamento de luz do show e que só pilhou ainda mais os loucos do povo de mullets me deu o melhor show da minha vida, perder minhas palmilhas e quase perder o passaporte por ação da chuva nem doeu.

- Mais importante de tudo - eles não vão pro show para filmar o show com seus iphones e câmeras, eles vão para, pasmem, curtir o show. E isso, para mim, diz muito mais do que eu poderia colocar em palavras.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Das penas e das culpas

Hoje eu tinha que assistir audiências para cumprir o conteúdo programático de uma cadeira que faço na faculdade.Como vara de família é um drama para assistir, já que eu preciso de um juiz compreensivo com a causa dos estudantes e partes que não se importem em ter mais testemunhas para a sua lavagem de roupa suja, preferi assistir as audiências da vara da infância e da juventude.

Para quem não sabe, essa vara é onde os menores infratores são julgados.

Tinham quatro hoje lá, todos acompanhados de pai e mãe, todos indiciados por tráfico.

Todos eram negros, de origem pobre, moradores de periferia.

Nos autos constavam matrícula em escola, presença em dia, além de dois deles trabalharem durante o dia. Eram beneficiados também da melhora econômica e do estado de pleno emprego que se encontra a região metropolitana do Rio de Janeiro.

Os meninos que foram pegos com 35 sacolas de cocaína e não resistiram à prisão, dirão os mais direitistas, tiveram oportunidades. Mas tiveram?

Apesar do discurso demagogo do juiz, que disse esperar daqueles meninos que eles se tornassem juízes, promotores e não perdidos na vida, é mesmo realista esperar que qualquer menino de origem humilde consiga ter uma acensão social razoável em sua vida?

Quem falhou não foram os meninos para com a sociedade ao " enveredar para o crime", mas sim a sociedade com eles ao lhes dar nada além de falsas oportunidades.

ps. A quem interessar possa, os 4 foram condenados ao regime de semi internato, de onde sairão, se fizerem tudo direitinho, em 6 meses.

domingo, 11 de março de 2012

Perversa lógica

Estava saindo do meu curso hoje no centro do Rio, ali atrás do estacionamento Menezes Côrtes ( para quem não sabe, é um ponto bastante central da cidade) e me deparei com uma cena repugnante - 1 PM e 4 Guardas Municipais aplicavam uma surra num garoto ( parecia menor) que teria roubado alguém.

O menino estava dominado, contra a parede de uma loja e não oferecia resistência mas isso não impediu o PM de iniciar os trabalhos, desferindo vários tapas na cabeça do rapaz, gritando para ninguém ouvir, já que a rua estava deserta e eu era a única testemunha do "corretivo", que ele era um ladrão, um bandido um drogado.

Quando os Guardas Municipais chegaram, com seus cassetetes em mãos, deram algumas borrachadas com o cabo do porrete nas costelas do garoto, sabe como é, para se enturmar com seu poderoso amigo PM.

Eu, como cidadão, deveria ter efetuado a prisão civil dos 5, mas eu tenho certeza que ganharia deles algo entre risadas e uma surra grátis, então me senti forçado a deixar o lugar rapidamente e olhar de longe.

Ao fim do esculacho, eu pensei que o menino seria levado à delegacia, mas não foi, deixaram ele ir embora, surrado, para seu canto de esquina. O policial/julgador/senhor supremo do centro deserto já havia decidido culpabilidade e aplicado punição.

Tudo isso aconteceu a 1 quadra do Tribunal de Justiça e da ALERJ, só porque não havia ninguém olhando. Imagine o que acontece onde os olhos nunca chegam.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Lindenberg

Acho engraçado ver essa comoção toda em julgamentos dos assassinatos que ganham repercussão na mídia. Esse em particular teve grande repercussão ao tempo porque até entrevistado o sequestrador foi, durante o sequestro!

Eu não sou um especialista em protocolos e táticas anti-sequestro mas acho que deixar o cara falar com a Sônia Abrão é quase apertar o gatilho junto do assassino.

Mas não é exatamente por essa estrada que quero seguir, da imputabilidade criminal do comandante da operação, por ter sido ineficaz para dizer o mínimo, isso é menor no assunto, ainda que importante observar como policiais geralmente conseguem se safar das lambanças que ocasionalmente fazem, como se safam tantas outras categorias.

É a comoção que interessa. Comemorações exaltadas, uma festa porque a justiça foi feita. Mas o brasileiro médio, altamente inflamável em questões de grande repercussão é o mesmo que gera uma sociedade onde o raciocínio que levou o rapaz a matar a sua namorada é aceito.

Ou não é aceitável em muitos círculos que o homem enfie a mão na mulher ao descobrir que foi traído?

Um amigo do hoje condenado cometeu o mesmo crime no ano passado.

A causa das mulheres avançou demais, mas enquanto não quebrar o paradigma patriarcal e retrógrado que impera por aqui, a igualdade de gêneros nunca será alcançada.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Parem São Paulo

Domingo, na calada da manhã, a PM de SP juntamente com a Guarda Municipal de São José dos Campos promoveu uma reintegração de posse num bairro carente chamado Pinheirinho. O vídeo conta a história.


Novamente, muitos já falaram sobre o assunto e de maneira muito melhor do que eu poderia sonhar em fazer por aqui. Principalmente o sempre impecável Flavio Gomes.

Eu gostei foi desse negócio de falar da reação do povo.

Tá certo que a mídia, fidelizada a questões partidárias muito mais do que a informação, não cobriu o evento da maneira que devia, duvidando da versão oficial. Aliás, reproduzir a versão oficial é só o que a grande mídia faz.

Mas isso claramente não é desculpa. Quando acham que uma menina foi molestada no BBB, mesmo com o silêncio total da mídia sobre o assunto, a questão rapidamente tomou conta da internet e uma mobilização para jogar algum tipo de luz no assunto foi organizada.

E eu pergunto, como o povo do estado de SP não se mobiliza contra a barbárie que ocorre na sua terra? Não protesta contra esse governador opressor e autoritário, contra um prefeito que permite uma Guarda Municipal portar armas de fogo ( coisa que só vi no estado de SP) e finge que nada disso acontece com esses pobres seres humanos?

Se não tem compaixão pelos, em boa parte, descendentes de nordestinos e em sua totalidade cidadãos que vivem à margem da sociedade, tenham pelomenos o egoísta sentimento em mãos. Hoje tomam a liberdade daquele e eu não olho, ontem, a liberdade dos dependentes químicos, que recebem do governo do estado de SP um " tratamento de dor" para que saiam de seu vício, não tem liberdade, quando é que chega o dia que a minha liberdade será tolhida?

O pior é que havia um acordo pacífico pronto e selado entre as partes, só faltou a caneta do prefeito, que optou pela via repressiva e bárbara.

Ele e seus amigos continuam dormindo na sua cama quente, coberto por lençóis de fio egípcio e climatização, enquanto os pobres diabos do Pinheirinho amargam dias a fio em uma tenda elameada, só com a roupa do corpo, sendo tratados de uma maneira que, se fosse bicho, estaria bombando no facebook.

Não deixem criminalizar a pobreza. Paulistas que tanto reclamam da corrupção a nível federal, protestem contra essa negociata que ocorre diante de seus olhos.Parem São Paulo.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

É estupro sim.

Odeio BBB e, ao escrever, já estou meio arrependido de ter dado tanta atenção para um programa tão idiota.

O que aconteceu hoje lá com o caso do suposto estupro já foi bastante repercutido e não é exatamente sobre ele que quero falar, mas sim sobre a repercussão em si. A repercussão só mostra como nossa sociedade ainda é patriarcal e machista.

Ela estar bêbada não é motivo para que ela possa ser estuprada, como não seria se ela, ou qualquer outra mulher, estivesse sóbria, nua e resolvesse na hora H ir embora. Pasmem, neomachistas, até prostitutas podem ser estupradas! No local de trabalho, com clientes!

Mas o que ocorre, infelizmente, é tentar de tudo para culpar a vítima, que teria provocado seu agressor de alguma forma, como se o álcool, o envolvimento prévio, ou até vestes provocantes justificassem ou atenuassem esse podre crime.

"Identidade sexual é um conceito que se utiliza para abarcar as hipóteses nas quais a vítima não goza de liberdade sexual, seja momentânea, seja por um espaço de tempo mais ou menos permanente. A pessoa adulta que, por qualquer causa, se haja privada de sentido, uma criança de nove anos ou um sujeito que sofre qualquer tipo de transtorno psíquico, nenhum deles pode em um momento determinado dispor sobre a sua liberdade sexual.

E se alguém mantivesse relações desta índole com a pessoa que se encontra nessa situação, atacaria sua identidade sexual. E se entende por tal o direito que todo ser humano tem a manter incólume sua dignidade humana frente a consideração de seu corpo como mero objeto de desejo sexual. Desta forma, a identidade sexual está intimamente relacionada com a dignidade humana e com o livre desenvolvimento da personalidade"

JIMÉNEZ, Emiliano Borja - professor titular da Universidade de Valência.

Como dizia um professor meu da faculdade, o estupro é o crime mais escroto que há, já que não é um crime que possa ser de qualquer forma aceito ou compreendido. Um homicídio pode ser compreendido, um estupro, não.

ps. se vierem falar algo sobre ser estratégia de jogo, nem comentem, só usei o caso como gancho e não me interesso nem um pouco sobre o que acontece dentro da falada casa.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Agora que me toquei que meu blog está entrando em seu quarto ano, com mais de 270 postagens nesse período.

Impressionante como esse pequeno e até bobo hábito de escrever nesse bloquinho de notas público foi importante para meu crescimento como escritor e, até uma certa medida, crescimento pessoal.

Não que o conteúdo dos meus textos, sempre um twist depressivo sobre os mesmos aspectos da sociedade que me incomodam, tenha mudado, mas em 4 anos creio ter feito deles uma pequena arte por agora.

Eu posso parecer um grande pessimista, mas quando eu vejo certas coisas... É uma pena ver o senso comum e gosto comum corrente e nunca deixarei de falar mal deles, até porque se parar o blog para de vez. Tinha um textão sobre a questão CNJ v STF, mas não sei se é inteligente para a minha carreira falar mal de juízes. Prometo falar sobre algo interessante nessa linha quando retornar aos meus aposentos.

Obrigado a todos que leem e, principalmente, aos que se dão ao trabalho de comentar.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

A silenciosa ditadura da uniformidade

Engraçado quando esperam sempre um certo comportamento pré estabelecido. Norte Coreanos chorarem pela morte de seu líder, um, diz a visão ocidental e capitalista, ditador malévolo e cruel que deixa seu povo morrer de fome para que ele possa deixar seu sucessor, Jong-Un bem gordinho para sua posse, é um absurdo, uma farsa. Tudo de positivo que possa transparecer do povo para seu regime, que é de fato uma ditadura sucessória, é falso e armado, toda a prosperidade do sul ultracapitalista, incensada.

Índios, pessoas que muitas vezes só querem viver na comunidade delas e sofrem com a chegada do mundo moderno, uns preguiçosos. Roubamos o país inteiro deles e ainda queremos suas reservas, e esses atrapalham o progresso.

Conseguir resultados profissionais para ontem, estar alinhado.

Tudo isso, a modelação cultural em geral, foi exatamente o que o movimento hippie tentou desconstruir, por que essas tolas amarras que impedem as individualidades de se manifestarem ainda persistem mais de 40 anos depois?