quarta-feira, 21 de março de 2012

Das penas e das culpas

Hoje eu tinha que assistir audiências para cumprir o conteúdo programático de uma cadeira que faço na faculdade.Como vara de família é um drama para assistir, já que eu preciso de um juiz compreensivo com a causa dos estudantes e partes que não se importem em ter mais testemunhas para a sua lavagem de roupa suja, preferi assistir as audiências da vara da infância e da juventude.

Para quem não sabe, essa vara é onde os menores infratores são julgados.

Tinham quatro hoje lá, todos acompanhados de pai e mãe, todos indiciados por tráfico.

Todos eram negros, de origem pobre, moradores de periferia.

Nos autos constavam matrícula em escola, presença em dia, além de dois deles trabalharem durante o dia. Eram beneficiados também da melhora econômica e do estado de pleno emprego que se encontra a região metropolitana do Rio de Janeiro.

Os meninos que foram pegos com 35 sacolas de cocaína e não resistiram à prisão, dirão os mais direitistas, tiveram oportunidades. Mas tiveram?

Apesar do discurso demagogo do juiz, que disse esperar daqueles meninos que eles se tornassem juízes, promotores e não perdidos na vida, é mesmo realista esperar que qualquer menino de origem humilde consiga ter uma acensão social razoável em sua vida?

Quem falhou não foram os meninos para com a sociedade ao " enveredar para o crime", mas sim a sociedade com eles ao lhes dar nada além de falsas oportunidades.

ps. A quem interessar possa, os 4 foram condenados ao regime de semi internato, de onde sairão, se fizerem tudo direitinho, em 6 meses.

domingo, 11 de março de 2012

Perversa lógica

Estava saindo do meu curso hoje no centro do Rio, ali atrás do estacionamento Menezes Côrtes ( para quem não sabe, é um ponto bastante central da cidade) e me deparei com uma cena repugnante - 1 PM e 4 Guardas Municipais aplicavam uma surra num garoto ( parecia menor) que teria roubado alguém.

O menino estava dominado, contra a parede de uma loja e não oferecia resistência mas isso não impediu o PM de iniciar os trabalhos, desferindo vários tapas na cabeça do rapaz, gritando para ninguém ouvir, já que a rua estava deserta e eu era a única testemunha do "corretivo", que ele era um ladrão, um bandido um drogado.

Quando os Guardas Municipais chegaram, com seus cassetetes em mãos, deram algumas borrachadas com o cabo do porrete nas costelas do garoto, sabe como é, para se enturmar com seu poderoso amigo PM.

Eu, como cidadão, deveria ter efetuado a prisão civil dos 5, mas eu tenho certeza que ganharia deles algo entre risadas e uma surra grátis, então me senti forçado a deixar o lugar rapidamente e olhar de longe.

Ao fim do esculacho, eu pensei que o menino seria levado à delegacia, mas não foi, deixaram ele ir embora, surrado, para seu canto de esquina. O policial/julgador/senhor supremo do centro deserto já havia decidido culpabilidade e aplicado punição.

Tudo isso aconteceu a 1 quadra do Tribunal de Justiça e da ALERJ, só porque não havia ninguém olhando. Imagine o que acontece onde os olhos nunca chegam.