quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Ah, quem eu queria ser

Eu queria ser o Ian Anderson, bem, ao menos a persona artística dele, pois o cara mesmo eu obviamente não conheço nem nunca presumi conhecer.

Algo sempre me fascinou naquela expansividade de palco e obviamente nas letras que diziam tanto sobre assuntos tão humanos de forma tão delicada com as metáforas mas secas quando as mesmas são dissecadas.

Nunca consegui escrever nada nesse tipo, embora muito tenha tentado. Tentar imitar essa persona também nunca deu muito certo, ao menos fora dos palcos. Quando eu tocava, era algo que me garantia muitos elogios de quem assistia.

Mas tentar ser expansivo na vida real não foi uma experiência tão boa assim. Eu sempre associei essa expansividade a tentar ser uma pessoa seca, sarcástica e muito sagaz, sem perceber como eu só manti boa parte dos meus amigos nesse período aí por puro carinho e boa vontade em enxergar um lado bacana em mim.

Eu me afastei das músicas que eu costumo ouvir porque perdi o hábito de andar na rua ouvindo música, acabei trocando por podcast. Então, mesmo sendo muito fã de Jethro Tull, eu devo ter passado quase um ano sem ouvir nada deles e boa parte dos últimos dois ou três ouvindo apenas umas coisas aqui e ali, sem prestar muita atenção.

Esses dias parei para ouvir uns álbuns que eu não tenho aqui em casa e achei na esquina das internets, acidentalmente e de forma totalmente legítima e comecei a ver como eu fui um jovem tonto. Estava tudo ali, dentro das próprias escrituras que eu tinha por sagradas. O próprio Ian escreveu algumas letras sobre a loucura de ter tanta gente olhando para ele, de ser o centro das atenções enquanto ele mesmo só queria se sentir parte da platéia.

Precisei ser uma persona, de alguma forma, para ver que nunca precisei de uma.

"I don't believe you! You had the whole damn thing all wrong!"

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Olha quem voltou

Sim, esse blog estava morto. Sim ele voltou a vida. Uma história curiosa me veio em sonho e achei que valia esboçar ela publicamente.

El Conquistador

Marco Antônio não era uma pessoa especial. Sim, toda história parte com essa premissa só para que ela se desprove nas linhas abaixo, afinal, se completamente comum e sem graça fosse, não renderia uma história.

Na verdade, estamos sendo injustos com o Marcão, ele era um cara bacana, cheio de estilo, gostava de não se conformar com os ditames da moda e da padronização humana que aflige uma sociedade que precisa de olhar para o lado para saber se vestir.

Descolado que era, vivia num intermediário entre a chata barba hipster e a caretice da cara limpa. Com uma festa temática dos anos 60 em vista, decidiu envergar grossas costeletas e ir de Elvis. Importante salientar que estamos falando do Elvis magro, não do Elvis decadente vestindo macacões com lantejoulas em Las Vegas, só o tamanho das costeletas homenageariam a fase cafona do Rei.

Sapatos brilhando, gel no cabelo, Marco estava um verdadeiro homem dos anos 60 andando pelas ruas de um frio entarcedecer carioca. Quando estava a caminho da festa, ouviu uma sinfonia de atabaques saindo de uma rua muito estreita. Ao passar ao lado da viela, tudo ficou preto.

Ele não estava mais andando pela Tijuca, ele não estava mais em lugar nenhum. Estava parado em pé e, ao seu redor, só havia breu. Uma luz se acende ao longe, abaixo da luz uma pessoa está sentada numa poltrona, saboreando um sorvete. Marco se aproxima em busca de respostas

Ao chegar perto nota que está diante de uma jovem moça negra, bastante gorda, que parece bem focada em seu sorvete. Mesmo assim, decide interpelá-la

- Moça, onde estou, o que aconteceu comigo?

A moça olha de canto de olho, mas continua focada na casquinha

- Você me deu boa noite cinderela quando comprei aquela cerveja no caminho da festa não deu? O que você quer de mim, meus rins?

Olho, casquinha.

- Responde alguma coisa caralho, quem é você?

Irritada com o chilique de Marco, a moça resolve responder

 - Porra cara, não tá vendo que eu tava terminando uma casquinha? Se der mole essa merda escorre e eu fico toda melada depois e esse papelzinho que vem junto não limpa nada, é horrível. Dito isso, você melhorou bastante nesses últimos anos ein Marco, há umas vidas atrás teria me chamado de macaca suja infiel pra baixo.

- Ahn? Vidas? do que você tá falando?

- Ah, ah, eu esqueço que vocês mortais levam um reset antes de voltar. Vou explicar em linhas gerais. Tu nasce, cresce, faz merda pra caralho, morre, fica no pendura, nasce, faz mais merda ainda, morre... esse esquema de reencarnação é tipo um cheque especial sabe?

- Você só pode estar maluca, que tipo de brincadeira escrota é essa?

- Hnm, brincadeira nenhuma nem, é a real.

- Mas então por que agora, por que logo no dia em que eu ia jogar meu charme de Elvis pra cima de umas gringas que estão fazendo intercâmbio lá na faculdade?

- Por isso aí mesmo, gatão.  As costeletas te deixaram sensível as vibes das suas vidas passadas e aí tu passou na frente de um terreiro e xablau - puxamos você para um papo.

- Então... você é tipo deus?

- Claro que não né porra, o cara é onipresente mas não tem tempo pra ficar lidando contigo né. Seguinte, a real é essa - teu cheque especial tá vermelho pra dedéu, com costeletas iguais a essa aí tu viveu na pele de Lope de Aguirre, Conquistador Espanhol que subiu pra tudo que é lado no Peru matando os pobre dos Inca procurando Eldorado. Além disso tu ainda traiu seu chefe e se fazia conhecer como a fúria de Deus, o que não fez o chefe lá muito feliz, ela odeia essa parada aí de matar em nome de.

- Ah, deus também é uma ela?

- Claro, enquanto vocês homens ficam aí se matando nós fomos subindo na empresa né. ENFIM, andamos precisadas de uns serviços aí na terra e como você é um rapaz que tá indo bem, tá melhorando, tá pagando ali o mínimo da fatura, mas tem uma dívida DAQUELAS , decidimos oferecer uma renegociação, sacou?

- Ahn... saquei, mas e se eu não quiser saber disso e preferir correr atrás daquele menage com as gringas?

- Tá vendo? É por isso que vocês homens continuam aí presos na terra, é por essa vontade de só pensar com a piroca. Você pode fazer o que tu quiser, porque né, livre arbítrio e tal, mas porra, esses abatimentos não aparecem toda hora não, eu tô falando de várias vidas a menos que tu vai ter que voltar no futuro aí. E, acredite, tu não quer morar na versão microondas desse planeta aí não. Todo dia vai ser verão de bangu.

- O que? verão de bangu? TÔ DENTRO.

(continua...)

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Uma bandeira para se lutar

Eu gostaria de estar protestando nesse exato momento. Não quis me arriscar estando sem poder correr graças a um tornozelo ridiculamente torcido.

As mobilizações hoje por todo o país são lindas e uma grande demonstração de como tem gente insatisfeita com como as coisas estão se desenvolvendo no país mesmo no cenário de desemprego baixo e um grande aumento de poder aquisitivo dos populares nos últimos anos. Não é a economia, estúpido.

Uma coisa, contudo, me preocupa demais - A insistência em despartidarizar e despolitizar o movimento. O primeiro me parece mais uma birra que qualquer coisa. Os partidos que se mostram na manifestação a criaram como uma crítica à esquerda do governo. O segundo é de uma estupidez total - Se manifestar é um ato político.

E essa tentativa de despolitização enfraquece a luta, leva o processo para um lado moralista e raso, o basta a corrupção. Querem dar um basta a corrupção? Passem a tratá-la como consequência do nosso sistema político, não a causa dele. Em um país que doações de campanha de origem privada são essenciais para se eleger, é natural que a maioria dos políticos fique na mão dos que lhes patrocinam.

Os maiores patrocinadores de campanhas são empreiteiras e empresas concessionárias de serviços públicos. Das campanhas surgem os acordos que geram as obras superfaturadas e que não melhoram a vida de ninguém , a opressão tarifária no transporte público e o crescimento gravíssimo das OSS's no serviço público. As empresas elegem os políticos para levar uma parte do Estado Brasileiro depois.

A marcha ganhou proporções estratosféricas muito graças a estupidez completa dos governos estaduais, ordenando que sentassem a borracha no povo. Mas não há uma causa unificada para seguir na luta quando a cobertura midiática diminuir, não há um ponto para criar pensamento.

Estou aqui para oferecer um, para que não paremos de lutar. Vamos lutar pela reforma política?

Goste ou não do PT( e hoje os vejo como um partido de centro direita que não me representa e não terá meu voto), essa é uma bandeira antiga do partido que sempre é esmagada e engavetada no Congresso.

E ela é muito simples - Financiamento público de campanha.

Com o financiamento público de campanha, o caixa 2 de campanha ( que foi o que aconteceu na ação penal 470 e no governo mineiro antes) se torna impossível. Isso é um grande passo em reduzir a lavagem de dinheiro na política, não haverá dinheiro entrando por baixo e saíndo por cima dos panos, digamos assim.

Com o financiamento público de campanha, os políticos não poderão mais se valer do seu ou do poderio econômico de empreiteiras e das empresas de transporte público para se eleger e para eles se submeter quando chegarem ao poder.

Sem o poder econômico, poderemos ter um conflito igualitário de ideias, fazer pensar, questionar propor. Não basta criticar, temos que ir à frente, temos que lutar pela mudança, isso só conseguimos com uma bandeira, uma proposição. Que tal essa?

E muito, muito cuidado com os timoneiros oportunistas que querem levar essa manifestação à direita. Esse não é um movimento conservador, é um movimento de luta.

ps. O arquivamento da PEC 37 é uma das propostas, eu sei. E concordo plenamente que devemos abafá-la, por ser totalmente anti-democrática. Só gostaria de ter visto o MP ter se pronunciado dizendo que iria se usar de seu poder investigativo

Adoraria poder traduzir esse lindo discurso feito durante a greve dos estudantes do Quebec. Está em Francês.

A idéia principal ? - " Nós nos unimos contra o governo liberal, não pelo aumento das anuidades (25 dólares por mês a mais) mas porque o significado desse aumento é mais profundo, vem de governantes que tratam a educação como nada além de uma maneira de qualificar trabalhadores e veem os jovens como nada além de  um futuro empregado deles. Para isso precisamos buscar uma luta mais profunda e lutar, lutar sem parar, como é a nossa tradição" Até os franceses fake são mestres em grève.

Outra leitura - http://cafecomnata.wordpress.com/2013/06/17/ei-reaca-vaza-dessa-marcha/

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Eyes wide shut

It's been a long time...

Depois de mais de um ano resolvi reativar o blog por uma causa especial para mim - a minha própria angústia.

Eu sei que não deveria significar muito a aprovação do estatuto do nascituro pela comissão de finanças, vez que em teoria não se analiza o mérito da lei por lá, apenas a sua viabilidade de ingressar no orçamento. Mas significa.

Significa que deputados, representantes do poder público e defensores da Constituição olharam para aquilo e pensaram que era totalmente ok a ideia de dar ajuda de custo para criar filhos de vítimas de estupro.

Seres humanos olharam para aquele pedaço de papel e simplesmente ignoraram o tamanho da mancha de sangue que ele carrega, os gritos que ele produzirá, a volta à masmorra para a mulher que ele visa.

O desinteresse popular pela política está criando um monstro - Um monstro organizado e ativo que faz de tudo para que a sua agenda retrógrada seja imposta a todos, mesmo para aqueles que não comungam da mesma fé. Aliás, quem não comunga da mesma fé é ímpio, eles são os escolhidos, os mais próximos de Cristo, os especiais.

Mais do que ver o Feliciano como presidente da CDH ver essa PL se movendo pelas engrenagens do Congresso me deixou muito desiludido com o caminho que escolhi. Eu sou um idealista e fiz direito por idealismo por acreditar que poderia ser uma peça que faria a engrenagem do meu país ir a frente, não por patriotismo mas por acreditar nos ideais de uma vida plena em sociedade para todos, independente de nacionalidade. E o que vejo à minha frente é um muro de intolerância e retrocesso.


Tudo o que os grupos mais retrógrados do neopentecostalismo quer é criar um sentimento de nós contra eles, de João contra os Romanos, dos portadores da verdade contra os corrompidos pelo demônio. Como ganhar uma batalha que para o adversário é uma guerra santa, e para ele nada importa além da palavra de seu líder?

As eleições de 2010 criaram um monstro quando Dilma e Serra se estapearam para ver quem era o mais carola, numa tentativa rasa de ambos para tentar amealhar o voto evangélico da Marina. Agora as pautas que a bancada evangélica mais preza se tornaram centrais na nossa política, mesmo em tempos de economia difícil.

Cabe a nós, defensores do estado laico, jogar o jogo deles. Se eles fazem marcha do ''chora capeta'' em Brasília, façamos nós a marcha da tolerância. Mostremos nas urnas que candidatos com propostas ao menos de não retrocesso tem espaço para crescer. Vamos tirar os 'escolhidos' de seu trono de ouro. É fazer isso nos próximos 15 meses ou garantir mais 4 anos de constantes ameaças aos direitos civis mais básicos que a declaração dos direitos dos homens e a nossa Constituição consolidaram.

Irônico como os que se dizem emanar da luz de cristo são os que querem nos levar à idade das Trevas.

Washington dizia que a democracia são dois lobos e uma ovelha decidindo o que comer para o almoço. Mas e quando não sobram mais ovelhas, o que acontece?

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Legal.

Estou a poucos meses da minha formatura em direito, ganharei o fantástico título de doutor sem doutorado, arte de uma terra onde o título é status, não formação acadêmica.

Mais do que isso, me colocarei fora da população economicamente ativa, desempregado, quer dizer, desempregado não, formandos em direito deram um nome mais legal pra isso - concurseiro.

Pejorativamente serei chamado do cara que só estuda, como se estudar fosse algo frugal e de menor importância, mas, o que as pessoas que me chamarão assim estão certas em dizer é de que eu de fato não estarei ganhando dinheiro para estudar. E é assim que o sucesso em nossa sociedade é medido, pela quantidade de dinheiro que ganhas, legal?

Mas essa nem é a pior parte, a pior parte é que eu não saio da faculdade super empolgado em tentar ser promotor, motivo pelo qual entrei na faculdade. Preciso de ter 3 anos de prática jurídica para poder ser promotor. Então eu tenho que guardar toda essa animação em agir e fazer a diferença, guardá-la com cuidado e lembrar que ela um dia existiu em algum momento de 2015. Legal.

Agora minha realidade é virar analista ou técnico judiciário, preciso de um fluxo de caixa para financiar minhas ambições, ou seja, tenho que fazer uma coisa que eu não quero, onde não serei nem um pouco feliz, dada minha pouca vontade de realizar a função em questão, para poder esperar o tempo passar até que a coisa que eu realmente quero seja atingível. Legal.

E é bom que eu passe, senão o que me restará é ser escravogado de alguma firma, onde eu trabalharei 12 horas por dia para ganhar... bom é bem pouco para quem estuda 5 anos e trabalha 12 horas por dia, te garanto. Legal.




sábado, 7 de abril de 2012

Vida porteña

Pontinhos sobre meu pulinho na saída do Mar del Plata.

- Os argentinos estão falidos há uns 10 anos, mas ainda assim Buenos Aires tem um metrô maior e melhor do que qualquer um no Brasil, ainda que esteja feio demais. Aliás, nem metrô nem ônibus são caros, 1,25 reais e 0.65 centavos a passagem respectivamente.

- A vida cultural dos caras é impressionante.

- Não me senti inseguro mesmo com muita mendicância e gente estranha. E parece que nem o argentino sofre com a violência, ainda que maior.

- O papo sobre as Malvinas por lá está chegando ao nível da psicose, domina os noticiários e as conversas, é totalmente irritante. Anglofobia on the rise.

- Eles são loucos, os argentinos, seja para atravessar uma rua ou para ir num show de rock. E essa loucura junta de uma chuva que acabou com o equipamento de luz do show e que só pilhou ainda mais os loucos do povo de mullets me deu o melhor show da minha vida, perder minhas palmilhas e quase perder o passaporte por ação da chuva nem doeu.

- Mais importante de tudo - eles não vão pro show para filmar o show com seus iphones e câmeras, eles vão para, pasmem, curtir o show. E isso, para mim, diz muito mais do que eu poderia colocar em palavras.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Das penas e das culpas

Hoje eu tinha que assistir audiências para cumprir o conteúdo programático de uma cadeira que faço na faculdade.Como vara de família é um drama para assistir, já que eu preciso de um juiz compreensivo com a causa dos estudantes e partes que não se importem em ter mais testemunhas para a sua lavagem de roupa suja, preferi assistir as audiências da vara da infância e da juventude.

Para quem não sabe, essa vara é onde os menores infratores são julgados.

Tinham quatro hoje lá, todos acompanhados de pai e mãe, todos indiciados por tráfico.

Todos eram negros, de origem pobre, moradores de periferia.

Nos autos constavam matrícula em escola, presença em dia, além de dois deles trabalharem durante o dia. Eram beneficiados também da melhora econômica e do estado de pleno emprego que se encontra a região metropolitana do Rio de Janeiro.

Os meninos que foram pegos com 35 sacolas de cocaína e não resistiram à prisão, dirão os mais direitistas, tiveram oportunidades. Mas tiveram?

Apesar do discurso demagogo do juiz, que disse esperar daqueles meninos que eles se tornassem juízes, promotores e não perdidos na vida, é mesmo realista esperar que qualquer menino de origem humilde consiga ter uma acensão social razoável em sua vida?

Quem falhou não foram os meninos para com a sociedade ao " enveredar para o crime", mas sim a sociedade com eles ao lhes dar nada além de falsas oportunidades.

ps. A quem interessar possa, os 4 foram condenados ao regime de semi internato, de onde sairão, se fizerem tudo direitinho, em 6 meses.